Número sem precedentes. Kiev acusa Rússia de ataque noturno com 188 drones

por Cristina Sambado - RTP
Gleb Garanich - Reuters

A Ucrânia confirmou esta terça-feira ter sido alvo de um ataque noturno russo com um número sem precedentes de 188 drones de combate, que, segundo Kiev, danificaram edifícios residenciais e "infraestruturas essenciais".

Durante o ataque noturno, o inimigo lançou um número recorde de drones de combate Shahed e não identificados”, bem como quatro mísseis balísticos Iskander-M, informou a força aérea ucraniana. "Infelizmente, as infraestruturas essenciais foram atingidas”, acrescentou.

Segundo as forças de Kiev, as defesas aéreas da Ucrânia abateram 76 aparelhos aéreos não tripulados (drones) e cerca de uma centena perderam o rumo devido às interferências eletrónicas acionadas pelo Exército ucraniano, e cinco dirigiram-se para a Bielorrússia. Em contrapartida, os sistemas de defesa aérea da Rússia destruíram 39 drones ucranianos durante a noite em sete regiões, avançou o Ministério russo da Defesa no Telegram. Vinte e quatro foram destruídos sobre a região de Rostov, na parte sul da Rússia.

As tropas de Moscovo também atacaram Kiev durante a noite, escreveu a administração militar da cidade no Telegram, acrescentando que as unidades de defesa aérea da Ucrânia destruíram mais de 10 drones russos.

Os drones russos aproximaram-se da capital ucraniana em ondas e de diferentes direções, mas não houve danos ou feridos como resultado do ataque, transmitiu Serhiy Popko, chefe da administração militar de Kiev no Telegram.
Rede elétrica de Ternopil danificada
Os ataques aéreos da Rússia durante a noite danificaram a rede de energia em Ternopil, uma importante cidade no oeste da Ucrânia, cortando a eletricidade e a água e interrompendo o fornecimento de calor, revelou chefe da sede do Conselho de Defesa da Região, Serhiy Nadal. Segundo o governador de Ternopil, Vyacheslav Nehoda, o ataque das forças russas provocou “danos substanciais” nas infraestruturas elétricas e cortou 70 por cento da energia da região e das áreas circundantes.


Os serviços de emergência estavam a trabalhar para restaurar o abastecimento de água ao longo da manhã, acrescentou Serhiy Nadal, no Telegram, acrescentando as interrupções de energia se vão manter durante horas.

Segundo dados da Força Aérea ucraniana, Ternopil, a cerca de 220 quilómetros a leste da Polónia, membro da NATO, e a maior parte da Ucrânia estiveram sob alerta de ataque aéreo durante várias horas durante a noite.

Os autocarros elétricos que servem a cidade serão substituídos por autocarros normais e os geradores ajudarão a suprir a falta de energia em escolas, hospitais e instituições governamentais, sublinhou Nadal, que não forneceu detalhes sobre a extensão dos danos na cidade que tinha uma população de quase um quarto de milhão de habitantes antes da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Medvedev adverte Ocidente contra armamento nuclear na Ucrânia
O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, advertiu esta terça-feira que, se o Ocidente fornecesse armas nucleares à Ucrânia, Moscovo poderia considerar tal transferência como equivalente a um ataque à Rússia, fornecendo motivos para uma resposta nuclear.
O New York Times noticiou na passada semana passada que algumas autoridades ocidentais não identificadas tinham sugerido que o presidente dos EUA, Joe Biden, poderia dar armas nucleares à Ucrânia, embora houvesse receios de que tal medida pudesse ter implicações graves.


“Os políticos e jornalistas americanos estão a discutir seriamente as consequências da transferência de armas nucleares para Kiev”, disse Medvedev, que foi presidente da Rússia de 2008 a 2012, no Telegram.

Medvedev disse que mesmo a ameaça de tal transferência de armas nucleares poderia ser considerada como preparação para uma guerra nuclear contra a Rússia.

“A transferência real de tais armas pode ser equiparada ao facto consumado de um ataque ao nosso país”, de acordo com a doutrina nuclear russa recém-atualizada, frisou.

As declarações de Medvedev surgem depois do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, ter afirmado, à agência TASS, que a NATO deixou de manter as aparências quando declarou a possibilidade de ataques preventivos contra a Rússia.Reunião da NATO e Ucrânia em Bruxelas
Os embaixadores da NATO e da Ucrânia reúnem-se esta terça-feira em Bruxelas, após o disparo de um míssil experimental russo em solo ucraniano, que provocou uma nova tensão entre os Aliados e a Rússia.

A Rússia atingiu a Ucrânia na quinta-feira com um míssil balístico de alcance intermédio de última geração, sem ogiva nuclear, e prometeu intensificar este tipo de ataque se Kiev continuar a utilizar mísseis ocidentais para atingir o seu território.
O Presidente russo, Vladimir Putin, também ameaçou atacar os países que fornecem essas armas aos ucranianos, afirmando que o conflito tinha assumido um “carácter global”. Na sequência do disparo desta nova arma experimental russa, a Ucrânia pediu aos aliados ocidentais que lhe fornecessem novos sistemas de defesa antiaérea, apesar das garantias de Moscovo de que estes mísseis, apelidados de “Orechnik” (“Avelã”, em russo), seriam impossíveis de intercetar.

É neste contexto de tensões elevadas que o órgão criado em 2023 para facilitar o diálogo entre Kiev e a Aliança Atlântica, se reúne esta terça-feira a pedido da Ucrânia.

A Ucrânia está à espera que sejam tomadas decisões “concretas” contra a Rússia, afirmou o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Andriï Sybiga.

A reunião será uma oportunidade para discutir “a situação atual na Ucrânia e incluirá informações de funcionários ucranianos através de uma ligação vídeo”, afirmou um funcionário da NATO à AFP.

Os diplomatas da NATO mostraram-se, no entanto, cautelosos quanto aos resultados que se esperam desta reunião. Os embaixadores deverão reafirmar que esta nova arma russa não os impedirá de “continuar a apoiar a Ucrânia”, segundo um deles.


Esta tensão renovada surge numa altura em que os europeus temem que o apoio militar americano à Ucrânia seja interrompido com o regresso de Donald Trump à Casa Branca, e que um acordo de paz seja concluído em detrimento da Ucrânia.

“Não posso imaginar que seja do interesse dos Estados Unidos permitir que Putin saia vitorioso destas negociações”, disse o chefe do Comité Militar da NATO, o almirante neerlandês Rob Bauer, numa conferência em Bruxelas, na segunda-feira.
Rússia capturou 235 quilómetros quadrados
As forças russas estão a avançar na Ucrânia ao ritmo mais rápido desde os primeiros dias da invasão de 2022, ocupando uma área com metade do tamanho da Grande Londres no último mês, dizem analistas e bloggers de guerra.A guerra está a entrar no que alguns analistas russos e ocidentais dizem que pode ser a sua fase mais perigosa depois de as forças de Moscovo realizaram alguns dos seus maiores ganhos territoriais e com os Estados Unidos a permitiram que Kiev contra-atacasse com mísseis norte-americanos.

“A Rússia estabeleceu novos recordes semanais e mensais para o tamanho do território ocupado na Ucrânia”, declarou o grupo de notícias independente russo Agentstvo num relatório.

O exército russo capturou quase 235 quilómetros quadrados da Ucrânia durante a semana passada, um recorde semanal para 2024, aditou.


As forças russas tinham tomado 600 quilómetros quadrados em novembro, acrescentou o Agentstvo, que cita dados do DeepState, um grupo com ligações estreitas ao exército ucraniano que estuda imagens de combate e fornece mapas da linha da frente.

A Rússia começou a avançar mais rapidamente no leste da Ucrânia em julho, no momento em que as forças ucranianas esculpiam uma parte da sua região ocidental de Kursk. Desde então, o avanço russo acelerou, de acordo com os mapas consultados.

Segundo os analistas, as forças russas estão a deslocar-se para a cidade de Kurakhove, um passo em direção ao centro logístico de Pokrovsk, em Donetsk, e têm vindo a explorar as vulnerabilidades das tropas de Kiev ao longo da linha da frente.

“As forças russas têm avançado recentemente a um ritmo significativamente mais rápido do que em todo o ano de 2023”, lê-se num relatório dos analistas do Instituto para o Estudo da Guerra, com sede em Washington.
O Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas revelou na atualização de segunda-feira que 45 batalhas de intensidade variável estavam a decorrer ao longo da parte de Kurakhove da linha da frente nessa noite.

O relatório do Instituto para o Estudo da Guerra e bloggers militares pró-russos dizem que as tropas russas estão em Kurakhove.

“Os avanços das forças russas no sudeste da Ucrânia são em grande parte o resultado da descoberta e exploração tática de vulnerabilidades nas linhas da Ucrânia”, acrescentaram os analistas do Instituto no seu relatório.

A Rússia afirma que alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, independentemente do que o Ocidente diga ou faça.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem dito repetidamente que a paz não pode ser estabelecida até que todas as forças russas sejam expulsas e todo o território capturado por Moscovo, incluindo a Crimeia, seja devolvido.

Mas em menor número do que as tropas russas o exército ucraniano está a lutar para recrutar soldados e fornecer equipamento às novas unidades.

Zelensky acredita que os principais objetivos do presidente russo Vladimir Putin eram ocupar todo o Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, partes da qual controlam desde agosto.

c/ agências
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